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Por Júlia Lyra, Manuella Valença e Nathalia Cruz

"O arraial na frente, porém, não revelava lutadores a postos. Dormia.

A multidão aproximou-se, tudo o indica, até beirar a linha de sentinelas avançadas. E despertou-as. Os vedetas estremunhando, surpresos, dispararam, à toa, as carabinas e refluíram precipitadamente para a praça que ficava à retaguarda, deixando em poder dos agressores um companheiro, espostejado a faca. Foi, então, o alarma: correndo estonteadamente pelo largo e pelas ruas; saindo, seminus, pelas portas; saltando pelas janelas; vestindo-se e armando-se às carreiras e às encontroadas... Não formaram. Mal se distendeu às pressas, dirigida por um sargento, incorreta linha de atiradores. Porque os jagunços lá chegaram logo, de envolta com os fugitivos."

(trecho extraído de Os Sertões de Euclides da Cunha)

A luta pela terra não é novidade, sendo uma questão que já atravessa séculos no Brasil, na verdade, todos desde a sua existência. Este quadro já foi retratado diversas vezes não somente através da mídia, mas também pela literatura nacional. Publicado em 1902, o clássico “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, narra a história da Guerra de Canudos, cujas principais causas estiveram diretamente relacionadas às condições sócio geográficas de um Nordeste centrado no latifúndio. O conflito é considerado como um dos maiores massacres praticados pelo Estado em relação ao povo brasileiro, entretanto, está longe de ser o último episódio de descaso e hostilidade do poder público com populações em situação de vulnerabilidade no país. Apesar de o direito à moradia ser garantido no art. 6º da Constituição, na prática, ainda há descaso em relação a políticas públicas que contribuam nesse sentido: a concentração de riquezas nos latifúndios permanece no território atual das cidades.

120 anos depois, as causas dos conflito nos sertões não se distanciam do que é vivido pela Comunidade Pocotó, localizada na Zona Sul do Recife, que recebeu uma recente ação de despejo em setembro deste ano. Coube a Euclides da Cunha emprestar os títulos das seções com que descreveu Canudos: A terra, O povo (adaptação de O homem) e A luta, para a seguinte reportagem sobre o conflito habitacional na Comunidade Pocotó.

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